sexta-feira, 19 de março de 2010

Roçadores de Aço!



Quando comecei a trabalhar como roçador descobri que existem dois tipos de cansaço: um físico e um mental. E que ambos não se relacionam, pelo menos comigo.

Num dia de sol quente, escaldante, em que trabalhamos numa região com morros, subidas e descidas com mato pesado o que significa um esforço muito grande com os braços, todo esse esforço se convertendo em verdadeiras cachoeiras de suor. Nesses dias há momentos onde me vejo diante de meus limites, onde às vezes sinto que não conseguirei dar mais nenhum passo devido ao cansaço extremo. Nesses dias assim que terminamos nossa labuta penso que chegarei em casa e desmaiarei de cansaço.

E é justamente nesses dias que constato a afirmação por mim citada no início desse texto, pois no momento em que tomo uma ducha, ali mesmo no vestiário da empresa, me sinto revigorado, é como se minhas energias fossem recarregadas devido ao refrescante toque da água em meu corpo, é como se junto da sujeira acumulada durante a manhã fosse, ralo abaixo, também toda fadiga, todo mal estar.

Menos de duas horas depois de uma manhã extenuante como a descrita, já estou enfiado em meus livros e fotocópias, ou então digitando algum trabalho ou atividade para a faculdade que faço logo mais a noite. Eu não sou o único a ter outra atividade além do trabalho, só na minha equipe outros três fazem faculdade, outros estão completando o ensino básico e têm mais aqueles que exercem outra profissão. Todos mesmo cansados aguentam firmes o restante do dia, até o momento em que capotam na cama, rumo a um novo amanhecer.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Benfeitores


Ser roçador tem seus altos e baixos, suas coisas boas e ruins, nem só de desgraça vive um roçador. Uma dessas coisas boas acontece quando trabalhamos em áreas de lazer como praças, campos de futebol, áreas verdes, locais onde o mato estava tomando conta e efetivamente se fazia necessário uma limpeza. Nessas horas tenho a sensação de que realmente meu trabalho hoje fez a diferença, não foi apenas um joguete político, nem uma troca de favores, ou então favorecimento de bairros ricos, em detrimento dos pobres.

É muito bom chegar a um local, como uma praça, que está tomada pelo mato, e no final do expediente ver aquele mesmo local que estava a poucas horas repleto de mato, agora pronto para a utilização da população, e mais especificamente utilização das crianças. Dá uma sensação boa, de dever cumprido, de que hoje eu fiz minha contribuição para o funcionamento harmonioso da sociedade. De que hoje uma criança vai jogar bola nesse campo, e que ela irá ser feliz da maneira pura como as crianças são, porque eu fiz a minha parte. Pode até parecer um pouco de exagero da minha parte, talvez uma idealização, ou então uma supervalorização de um insignificante trabalho, mas é o que eu sinto nesses momentos.

Sei que outras profissões também despertam essa sensação boa de dever cumprido, mas acho que de maneira tão direta são poucas. É muito bom ver o olhar de desconfiado dos moradores do bairro quando chegamos, e após o trabalho feito ver esse olhar se transformar num de agradecimento. É recompensadora a gratidão das pessoas, elas nos vêem todos sujos de mato, suados, cansados, sabem que não é fácil nosso trabalho, mas sabem que ele é necessário. De vez em quando recebemos elogios e palavras de agradecimentos, que costumeiramente vem acompanhado de um copo e de uma boa garrafa de água gelada. Merecido prêmio!

Ser roçador não é fácil, mas tem seu lado bom.